Soneto de separação

Vinícius de Moraes foi o único untouchable com quem sonhei, acho que dos 11, 12 anos até sei lá. Não era pra namorar mas para ouvi-lo falar de amor. Só pra mim, é claro. Um pouco mais adulta, estudei a sua obra, seu estilo, sua filosofia de viver o amor. A ele, rendo os meus tributos sem qualquer pretensão de ser original na minha escolha. Na própria voz e, ao final, a letra do Soneto de separação.
SONETO DE SEPARAÇÃO
De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.
De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.
Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.
Oceano Atlântico, a bordo do Highland Patriot, a caminho da Inglaterra, setembro de 1938, Vinícius de Moraes